20/11/06

Zézé

Na hora de almoço, o puto decidiu ir ao ginásio para descarregar as energias negativas.

Depois de quinze minutos de vigoroso aquecimento, completamente alagado em transpiração, olhou para o lado e uma cara conhecida vislumbrou.

Em situação normal o puto contém-se diante a personalidades, pensando que ao ir lá falar vai pôr a outra pessoa numa situação habitualmente embaraçosa.

Mas desta vez foi impulsivo, estava ali ao lado, José Pedro Gomes, o Zézé da Conversa da Treta e único monge dos Caracolários Descalços no Filme da Treta.

Talvez pela proximidade das suas personagens com o comum dos mortais, o puto aproximou-se e cumprimentou-o respeitosamente. Nada de novo deve ter pensado ele, mas pelo menos manteve um largo sorriso na cara e pareceu interessado no que o puto dizia sobre ele.

“Sr. José Pedro Gomes, você é o maior”. Levantou-se do assento de uma das máquinas do ginásio, envergando o seu pouco mais de metro e meio. Olhou-se de alto a baixo e disse “epá… nem por isso”.

Segunda-feira

Ao contrário da maior parte das pessoas, o puto até gosta do famigerado dia. Ainda vem com todas as boas vibrações derivadas do fim-de-semana. O pior dia é sem sombra de dúvida a quarta-feira… É o somatório do cansaço dos dois primeiros dias da semana com a desmotivação de ainda faltarem dois, horrível.

De há umas semanas para cá, as segundas-feiras têm sido simplesmente caóticas. Todos têm problemas durante o fim-de-semana e quem tem de os resolver? O puto, claro.
Os problemas e solicitações em catadupa, secam a boa disposição, transformando um generoso sorriso matinal, numa expressão séria e incolor.

13/11/06

Mundo do Interesse

No mundo onde vivemos, tudo são empresas. Desde as empresas propriamente ditas, grandes ou pequenas, até às famílias e mesmo, o mero solteiro. Todos têm os seus impostos para pagar e acima de tudo, todos têm de subsistir.

Subsistir é lucrar. Lucro este que, pode ser fama, projecção, dinheiro. A chave deste jogo é negociar, negociar e negociar. Negociar tem duas vertentes. Quando se está por cima, fazer acreditar a outra parte que, o que se está a propor é o melhor negócio que existe. Quando se está por baixo, fazer acreditar a outra parte, que leva a mal, e que tem muito a perder, se não aceitar.

Quando este jogo de interesses se desenrola a nível empresarial, até parece normal, afinal de contas as empresas estão organizadas para isso. Agora quando é a nível pessoal, a empresa tem cara. O que torna as coisas mais confusas para o puto. O puto não gosta da mentira e do engano.Ao mesmo tempo que, vê o outro como semelhante, vê também o outro a tentar ganhar vantagem sobre ele. Mas, se o outro quer ganhar vantagem, não quer ser semelhante.
Quem não sabe negociar neste mundo torna-se um aleijado, ao tentar dar-se bem dentro do mundo do interesse.
Na maneira de ver do puto, talvez utópica, lutar pela igualdade de ambos é mais proveitoso, pois remam os dois para o mesmo lado.
A conclusão é simples. A sociedade que nos rodeia, impele-nos para lutarmos uns contra os outros. Enquanto estivermos preocupados em tomar posições divergentes, quem na realidade tem o lucro, tem todo o tempo do mundo.

02/11/06

Fado

A diva entrou em palco e o tempo parou. O puto absorvia cada nota como se fosse a última da sua vida.

Depois de assistir a tantos concertos, com artistas nacionais e não só, o puto assistiu ontem, provavelmente, ao melhor espectáculo musical que tem memória. A artista, Mariza, com a alma na voz, fazia arrepiar qualquer pessoa naquele Coliseu à pinha.

Numa demonstração em como tinham sido as suas primeiras noites de Fado, dirigiu-se para o centro do anfiteatro sem microfone, na companhia de uma guitarra portuguesa e uma clássica, também elas desligadas do que quer que fosse. No meio da multidão cantou e encantou. Maravilhados, todos nos apercebemos do poder daquela voz que, sem o auxílio de amplificadores, se ouvia forte, sentida e limpa, em todo o recinto. Como devem calcular, a ovação foi de pé.

Os estrangeiros presentes, à saída, espantados com esta voz e expressão musical, únicas no mundo, insistiam na pergunta “mas… isto sempre foi assim?”, “o Fado sempre teve esta dimensão?”. Com as respostas afirmativas, por parte dos portugueses, mais estupefactos ficavam. Sim, sempre tivémos excelentes intérpretes do Fado, a nossa música.

Um sentimento de orgulho em ser português e lisboeta transbordava.

Mariza, para ti, sublime é a palavra.