Aos 30 anos ainda me surpreendo algumas vezes, felizmente. Mas escassas são as situações em que fico possuído por uma ira visceral e esta é uma delas. Provavelmente a única.
Imaginem esta situação. Segunda circular quase parada, milhares de condutores a desesperar, cada um com a sua razão.
E lá ao fundo avista-se a razão deste condicionamento. Um acidente, com polícia, ambulâncias e afins. Mas, e alí está a razão da minha raiva, o acidente deu-se no sentido oposto logo sem razão aparente para o meu sentido estar engarrafado.
Como que por magia as pessoas que estiveram horas na fila esquecem-se do que acabaram de passar e entram num modo ridículo. O modo do sadismo encartado.
Mas que alminhas sem vida gostam de ver chapa retorcida, corpos estrupiados e ambulâncias? Ficam hipnotizados por a desgraça alheia, como o olhar de um esfomeado a ver uma travessa de cozido.
Epá! Querem ver desgraças liguem o telejornal! Querem ver desgraças? Façam uma introspecção e indaguem o porquê do gosto pelo azar dos outros.
Se querem ser sádicos, sejam, não tenho problema nenhum com isso. Agora por favor! Acelerem! Metam outra mudança que não a primeira! Não se esqueçam que estiveram horas na fila a desesperar e que é a vez de outro sádico ver o espetáculo e que os poucos que não gostam da desgraça alheia querem seguir com a sua vida.
É que eu venho lá a tráz a buzinar, a esbracejar e a dizer todos os palavrões que me vêm à cabeça.
A era em que a fruta fazia milagres, juntamente com cafés com leite e viagens ao Brasil, acabou. Ainda há esperança pela verdade desportiva. 
